quinta-feira, 27 de julho de 2017

Capítulo 022 – O Mestre e o Aprendiz


Em algum lugar do oceano Pacífico Sul, numa ilha marcada pelo calor e pelo pesado clima acinzentado, havia um homem observando o cosmo negro que acabara de desaparecer numa região mais ao norte do oceano Atlântico. Esse cosmo extinto intrigava esse homem e seu grande cosmo.

Na cratera do vulcão domado Alcasus, estava um homem de cabelos curtos castanho-avermelhados, porte imponente e olhos vermelhos como fogo.  A calça manchada de cinza e as sandálias surradas descreviam alguém que já era parte do cenário.

A aura negra fazia brilhar certo espaço entre as estrelas do céu, onde se dizia existir um portal para um mundo escuro de fogo e de dor.

Silencioso, seu olhar fitava o horizonte, e a sua mente tentava acertar o nome daquele que fechara os olhos do pavão  negro em terras distantes dali.

Mais ao centro, em meio a lava borbulhante estava um homem de idade mediana, ao menos na aparência. Nas mãos tinha instrumentos, e um estranho brilho reluzente saia das ferramentas, a cada batida nas peças que tratava. Trabalhava na construção, como no entalhar de uma escultura em pedra.

Ele estava a esculpir metal. O raro gamanium era mesclado a cinzas e ouro, banhado com o sangue dos muitos homens mortos ao redor do mundo.  O vermelho do liquido humano permanecia como se vivo naquele vulcão. As cinzas expelida tornavam o ambiente ainda mais sombrio, aumentando a cada partícula a aura de morte e desespero que percebia-se até bem longe da ilha no mar adentro.

Nenhum pescador, nem navegador experiente ousavam se aproximar da costa sequer para buscar água. Os boatos davam conta daqueles que aportaram e nunca voltaram, e das grandes fortunas em ouro, prata e bronze de homens que ali sucumbiram. As caraças de embarcações, bem como diversas partes de barcos que ainda batiam contras o paredão rochoso da ilha, podiam ser vistas a léguas de distâncias mar adentro, e davam veracidades as narrativas.

A temível ilha era chamada por todos de “Ilha da rainha da morte”. A morte reinava, e por não se ouvir sons, se dizia ser trazido pelo silêncio de uma rainha.

No vulcão o artesão de metal concluía reparos em uma de suas obras primas. O traje em forma de caranguejo tinha um brilho negro especial, revelando o mistério da alquimia dos metais. O metal vivo pulsava, como se em resposta ao cosmo de alguém.

O novo brilho do traje traz até o artesão o dono do cosmo que o fazia pulsar.

— Arno, meu caro ... Ecoa voz já interior do vulcão.  — Terminou com minha armadura?

— Sim,  Abdon. Responde o artesão. — Seu brilho será ainda maior do que quando usado por seu antecessor.

— O que é isso artesão? Ironiza Abdon. — Não falemos dos mortos. Pelo menos seu sangue serviu para deixá-la novinha em folha para mim:  Abdon, o líder dos cavaleiros e amazonas negros pelo mundo.

— Muito bem então! Comenta Arno.

Abdon toca a armadura, e passando os dedos sobre o metal levemente doirado, aquece seu cosmo. A armadura o veste e ele sente seu poder intensificado.

— Poderoso Adonis! Admira-se Abdon. — Foi uma vitória difícil, mas seu sangue inflamado de cosmo continuara sua jornada ao meu lado. Sob meu comando.

O cavaleiro negro de Câncer desmonta seu traje, e dali sai com sua caixa de Pandora nas costas.

Além de Lord, Abdon tinha outros nove cavaleiros negros sob seu comando.

A tarde se vai, e sob a luz avermelhada do crepúsculo, ainda no centro do vulcão estava Arno a meditar. As bolhas de gás que subiam, por causa do ambiente quente, explodiam formando um espetáculo de cores em clarões cintilantes. Em meio às luzes surge um cosmo agressivo.

Da lava borbulhante surge uma caixa de Pandora negra. A caixa se abre e uma armadura negra reluz prateado em meio às explosões de gases.

A mente de Arno passariam tristes lembranças de sua terra natal, e daqueles que ele um dia chamou de irmãos.

QUATRO ANOS ATRÁS

Arno estava em sua oficina trabalhando com metais. Ele era um dos melhores alquimistas da ilha, em formação pela Academia de Lemúria.

Ele era primo do Gran-Mestre Iron de Turígia, e estava sob a orientação de Fernan de Tessalian, Mestre Alquimista da província no Gran-Conselho e grande sábio.

Secretamente Arno fazia experimentos considerados proibidos pelo Gran-Conselho. Usando componentes proibidos ele dava vida a partes de metal.

Os membros do Gran-Conselho tinham a prática como ofício, mas temendo o uso inescrupuloso do conhecimento mantinham a técnica sobre controle.

CINCO ANOS ATRÁS

Sebastian da província de Turígia desenvolvera a técnica de dar vida aos metais, permitindo-os interagir com a cosmoenergia humana, mas essa descoberta não seria uma revolução na alquimia. Iron de Turígia, na posição máxima de governo da ilha, ouvidos os conselheiros das doze províncias, vetaram essa habilidade, proibindo sua prática por Sebastian.

O Gran-Conselho começa a monitorar os passos de Sebastian, e com a notícia de seus atos vindo a público, Sebastian se afasta de todos.

Com a chegada da guerra santa contra Poseidon, Atena, conhecedora da regra do Gran-Conselho, autoriza os Mestres Alquimistas a usar a técnica para a confecção das sagradas armaduras, utilizando para isso seu próprio sangue divino.

Com a benção de Atena foi criado o oficio de Artesão Alquimista, e anos após a criação da técnica por Sebastian a prática não mais era proibida.

Por ser o desenvolvedor da habilidade Sebastian tornou-se o primeiro líder do grupo de Artesãos Alquimistas, e como podia ter um aprendiz apresentou Arno de Tessalian.

Arno era pessoa reservada e sombria. Como aluno dedicado aprendia muito rápido o ofício, mas despertou interesse no uso de sangue morto retirado de criaturas sacrificadas. Sua insistência nessa prática causou sua expulsão como aprendiz, porém Arno ainda cursava a Acadêmia de Lemúria.

Fernan de Tessalian acompanhava Arno com cuidado, mas receoso de suas ideias diferentes influenciarem outros alunos mantinha a seu pupilo sob vigilância constante.

Arno não respeitava as regras a ele estabelecidas, e Fernan notificou o Gran-Conselho de seus atos reincidentes. Os conselheiros decidiram pela expulsão do lemuriano da ilha, e Arno deixou a ilha sem paradeiro conhecido.

Sebastian considerou a medida extrema, e revoltado procurou conhecer a técnica geradora de tamanha polêmica. O Mestre Artesão foi seduzido pela nova prática proibida, e como não poderia fazê-la em Lemúria seguiu o mesmo caminho de Arno.

A saída do segundo Lemuriano conhecedor da mesma técnica banida trouxe grande preocupação ao Gran-conselho.

As investigações de Fernan juntamente a seu irmão Melias informavam do refinamento da técnica por Arno, e a saída de Sebastian como simpatizante fez o Gran-Conselho se arrepender de sua decisão. Havia a solta um mestre e um aprendiz.

 A limitação geográfica de Lemúria levou o Gran-Conselho a contatar o Santuário de Atena, para apoio na localização de Arno e Sebastian.

MONTE ALCASUS - TEMPO PRESENTE

Arno sabia que naquela ilha inóspita e temida por todos  não seria encontrado, e poderia concluir seu plano de confrontar a todos, incluindo Lemúria, com os resultados de sua técnica refinada de alquimia dos materiais.

A energia de seu mestre artesão desaparecera, e a técnica proibida por Lemúria,  aperfeiçoada ao longo de tantos anos, estava livre para ser executada por suas mãos. Ele estava preparado para liderar um exercito forjado pelos desejos frustrados e sede de vingança dos muitos homens e mulheres espalhados na terra.

Acompanhando a tudo, em meio as mais profundas sombras estava Sebastian, que seguia cada passo de seu antigo pupilo.

A caixa de Pandora diante Arno se abre, e a bela armadura negra de escultor encontra-se montada.

Observando sua maior obra prima, Arno aguarda a chegada do dono do cosmo oculto que o acompanhava, e recentemente dava sinais de se revelar. Com a proximidade cada vez maior Arno não tinha mais dúvidas de quem se tratava. A silhueta se desenha entre os vapores do interior do Alcasus, e Sebastian de Turígia, o segundo desertor de Lemúria, acabara de chegar.

Em recordação a sua posição em Lemúria, Arno de coloca de cabeça baixa, em respeito a seu mestre, mas é interrompido por Sebastian.

— Não, Arno! Repreende Sebastian. — Levante a cabeça! Você não é mais meu discípulo. A técnica que criou esta joia diante nós é exclusivamente tua.

Arno estava surpreso.

— Nesta condição não sou mais teu mestre. Revela Sebastian. — Serei teu aprendiz.

Os olhos de Arno brilham.

— És meu pupilo. Afirma Arno, — Teremos muito a fazer. Tenho um exercito a construir e muito a conquistar.

Atento a tudo que acontecia naquela pequena ilha, de algum lugar místico além de um punhado de estrelas do céu, alguém observava com alegria.


AS ARTES ALQUIMISTAS NEGRAS COMEÇAVAM A CONSOLIDAR UMA NOVA AMEAÇA A ATENA.

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